Pneumonia
Conceito
A pneumonia é uma infecção aguda das vias respiratórias que acomete os pulmões. Foi a causa da morte de 22% das crianças de 1 a 5 anos de idade. O que correspondeu a quase 750mil mortes em 2019. Pneumonia pode ser causada por vírus, bactérias e fungos, e pode ser prevenida com boa nutrição, imunização e cuidados de saneamento básico.
Etiopatologia
A identificação dos causadores das pneumonias é importante para a recomendação de uso de antibióticos empíricos, o desenvolvimento de vacinas e guiar o tratamento. Mas na maioria das vezes não é possível realizar a identificação do organismo causador da infecção, principalmente no caso de infecções bacterianas.
Razões que dificultam a identificação de agentes etiológicos nas pneumonias
- algumas bactérias patogênicas fazerem parte da flora bacteriana colonizante do ser humano
- muitas não apresentam disseminação hematogênica o que dificulta o crescimento em hemoculturas
- dificuldade em se coletar material das vias aéreas inferiores os quais muitas vezes apresentam crescimento de vários micro-organismos contaminantes
As infecções pelo pneumococo caíram desde a década de 90 principalmente após a introdução das vacinas anti-pneumocócicas e contra Haemophilus influenzae tipo B (Hib). No entanto o primeiro ainda é responsável por cerca de 1/3 das pneumonias bacterianas seguido pelo Hib, M. catarrhalis, S. aureus e estreptococo. Estes dois últimos evoluindo com mais frequência para empiema pleural.
Apesar destes a maior parte das pneumonias são causadas por vírus, dentre eles o mais comum é o vírus sincicial respiratório (VSR). Que acomete principalmente crianças com menos de 2 anos. Outros também encontrados são o metapneumovírus, adenovírus, Influenza A/B, parainfluenza 1,2,3,, rinovírus, varicela vírus, citomegalovírus, enterovírus, herpes, bocavírus e mais recentemente o SARS-CoV-2. Até metade das infecções virais são infectadas concomitantemente por bactérias e a mais frequente delas é o pneumococo.
Etiologia da PAC por idade do paciente
- RN até 3 dias de vida
- Estreptococo do grupo B, Bacilos Gram negativos e Listeria monocytogenis, Chlamydia trachomatis
- 3 a 28 dias
- Stafilococcus aureus, Stafilococcus epidermidis, Gram negativos
- 1 a 3 meses
- Vírus, C. trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Streptococcus pneumoniae, Stafilococcus aureus
- 4 meses a 5 anos
- Vírus, Streptococcus pneumoniae, Stafilococcus aureus, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Mycobacterium tuberculosis
- acima de 5 anos
- Streptococcus pneumoniae, Stafilococcus aureus, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, M. tuberculosis
Diagnóstico
Apesar de não haver sinais específicos de pneumonia, a maior parte dos diagnósticos se faz com os achados clínicos da anamnese e exame físico associados aos do raio x de tórax. Sinais de esforço respiratório, taquipneia e febre são os mais associados a quadros pneumônicos. A tosse e a febre (>37,5°C) estão presentes em mais de 80% das crianças com pneumonia. A hipoxemia (StO₂<97%) também deve ser valorizado principalmente quando associado a esforço para respirar. A taquipneia tem valor maior para excluir pneumonia quando ausente que para confirmar pneumonia quando o sinal está presente.
Sinais e sintomas de pneumonia
- tosse
- febre
- desconforto respiratório (dispneia)
- aumento da frequência respiratória (taquipneia)
A ausculta respiratória devido a sua alta variabilidade e baixa reprodutibilidade têm baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico. A dor abdominal pode estar presente em casos de pneumonia e as vezes ser a queixa principal. A dor torácica também é importante nos casos de empiema pleural e para o diagnóstico em adolescentes e crianças maiores. Os germes atípicos (Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae) geralmente tem quadro que se inicia lentamente e geralmente associado a tosse seca, indisposição, cefaleia, dor de garganta, otite média, febre ausente ou baixa além de poder ocorrer quadros extrapulmonares como:
- encefalite
- meningite asséptica
- neuropatia
- urticária
- púrpura
A presença de infiltrado hilar bilateral no RxT também deve levantar suspeita para infecções atípicas.
Muitas vezes os achados são semelhantes a quadros virais de infecção de vias aéreas superiores (IVAS) ou bronquiolite. A necessidade de internação é determinada pela presença de desconforto respiratório, hipoxemia e sinais sistêmicos de mal perfusão periférica. Há uma grande superposição de sintomas em crianças com pneumonia, bronquiolite e asma.
Quando internar o paciente com diagnóstico de pneumonia?
A resposta para essas pergunta não é objetiva, no entanto podemos utilizar de alguns critérios de gravidade que levam em conta a aparência, a circulação e a respiração (triangulo de avaliação pediátrica)
Fatores a serem considerados na tomada de decisão quanto à hospitalização:
- Sinais clínicos de gravidade
- SatO 2 < 92%; cianose о FR > 50 mpm (lactentes > 70) -
- Taquicardia desproporcional à febre
- Sinais de esforço respiratório
- Tempo de enchimento capilar > 2s
- Dificuldade para se alimentar
- Gemência/apneia
- Aparência toxêmica
- Desidratação
- Fatores de risco de gravidade;
- Cardiopatia congênita
- Displasia broncopulmonar
- Fibrose cística
- Bronquiectasias
- Imunodeficiência
- Presença de derrame pleural;
- Idade < 3-6 meses;
- Dificuldade alimentar / vômitos impedindo tratamento via oral
- Capacidade dos responsáveis de cuidar da criança
Raio X de tórax
Alguns guidelines não recomendam a solicitação rotineira do raio x de tórax para avaliação de suspeita de pneumonia de tratamento ambulatorial. Por não ter muita utilidade em diferenciar infecções bacterianas das virais; por não haver evidências de que influencie nos desfechos clínicos; por pneumonia bacteriana em suas fases iniciais poderem apresentar RxT normal; por apresentar baixa concordância na interpretação quando se compara examinadores diferentes. No entanto, a definição clínica de pneumonia é bastante inespecífica e seus sinais e sintomas bastante subjetivos o que faz com que o RxT seja o exame mais solicitado para avaliação na suspeita de pneumonias.
Ultrassonografia do tórax
Com a redução dos custos dos aparelhos de ultrassonografia e maior disponibilidade dos mesmos e devido a vantagem de não expor a criança a radiação a ultrassonografia têm sido cada vez mais utilizado como exame diagnóstico para pneumonias em crianças. Apesar disso ainda restam um longo caminho até o mesmo substituir o RxT. No momento é imprescindível o uso da ultrassonografia em casos de complicações locais da pneumonia bacteriana como derrames parapneumônicos e empiema pleural. Quando utilizado é também capaz de avaliar áreas de consolidação e atelectasias no parênquima pulmonar.
Laboratorial
Procalcitonina
Pode ser utilizada na conduta dos pacientes com pneumonia associada a outros achados clínicos. Valores de procalcitonina <0,25ng/mL podem com boa acurácia identificar crianças com risco baixo de pneumonia bacteriana as quais o uso de antibióticos não estaria indicado.
Hemograma e provas inflamatórias
O hemograma com leucograma, proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) são importantes para os pacientes em internação hospitalar no sentido de guiar a conduta clínica e avaliar a resposta do paciente ao tratamento com antibióticos. No entanto para o paciente com quadro pneumônico não grave de tratamento clínico ambulatorial alguns guidelines dispensam a sua solicitação.
Hemoculturas
As hemoculturas não devem ser solicitadas para pacientes imunizados que serão tratados ambulatorialmente. Para os internados há algum benefício em solicitá-las apesar da taxa de positividade variar entre 2% e 7%.
Tratamento
Ambulatorial
Indicado para pacientes sem desconforto respiratório que possam tomar o antibiótico por via oral.
Critérios para desconforto respiratório em crianças com pneumonia
- Taquipneia - frequência respiratória em incursões por min (ipm)
- 0-2 meses de vida > 60ipm
- 2-12 meses de vida > 50ipm
- 1-5 anos de vida > 40ipm
- >5 aos de vida > 20ipm
- Dispneia
- Retração (subcostal, supra-esternal e intercostal)
- Gemência
- Batimento da aleta nasal
- Apneia
- Alteração do estado mental
- Oximetria de pulso <90% em ar ambiente
Podemos ainda classificar os pacientes para tratamento ambulatorial em dois grupos de acordo com a idade:
- maiores de 5 anos
- menores de 5 anos
Esta classificação por idade é importante quando se leva em conta a prevalência maior de pneumonias atípicas nos maiores de 5 anos e a necessidade de cobertura antibiótica com macrolídeos para estes casos.
- Bacteriana
- primeira linha => [[ antibióticos|amoxicilina ]]
- alternativa => [[ amoxicilina+clavulonato ]]
- Atípica
- primeira linha => [[ azitromicina ]]
- alternativa => [[ claritromicina ]]
Hospitalar
escolha do antibiótico para paciente internado
A escolha do antibiótico para o paciente internado se baseia no status vacinal do paciente para HiB e pneumococo e na etiologia, seja empiricamente ou orientada através de culturas, sorologias ou painéis virais quando disponíveis.
### Complicações relacionadas a pneumonia
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Pulmonares
- empiema pleural
- pneumotórax
- abscessos pulmonares
- fístulas broncopleurais
- pneumonia necrotizante
- insuficiência respiratória aguda
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Metastática (Embolias sépticas)
- meningite
- abscesso sistema nervoso central
- pericardite
- endocardite
- osteomielite
- artrite séptica
-
Sistêmica
- sepse ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica
- síndrome hemolítico-urêmica (SHU)