Torção de testículo

A torção de testículo é um problema comum no pronto socorro de cirurgia pediátrica, ocorre devido a uma anomalia na fixação do testículo na túnica vaginal do escroto. O que leva a redução do fluxo sanguíneo para o testículo e, se não tratado, isquemia e necrose.

Fisiopatogenia

A torção pode ocorrer de duas maneiras:

  • intravaginal
  • extravaginal

Intravaginal

Normalmente o testículo permanece fixo em sua posição na cavidade vaginal do escroto por uma prega de túnica vaginal que se origina na superfície posterior desta e se estende posteriormente ao testículo na sua relação com o epidídimo, recobrindo ambos lateralmente até a borda anterior e retornando medialmente a estes.

Desta forma a borda posterior do testículo e seu epidídimo ficam presos a parede posterior da bolsa escrotal permitindo a mobilidade do testículo mas não sua torção. A anomalia de fixação ocorre quando está prega se forma precocemente durante o período de descida do testículo fazendo com que o mesmo fique suspenso dentro da bolsa escrotal de maneira semelhante a úvula ou o badalo de um sino.

Assim podendo ocorrer a torção do mesmo e a interrupção do fluxo sanguíneo através dos vasos testiculares.

Extravaginal

É restrita ao período neonatal durante a descida do testículo o gubernaculum traciona o testículo através do conduto peritônio-vaginal.

Na interface entre as estruturas que se movimentam e o conduto fixo que elas atravessam existe uma camada frouxa de tecido conjuntivo que permite todo o conjunto (gubernaculum e testículo) torcer. Causando isquemia e necrose do testículo.

Quando este evento ocorre ainda no período fetal pode levar a reabsorção do testículo e ausência do mesmo após o nascimento com os vasos gonadais e ducto deferente terminando em fundo cego no peritônio intra-abdominal, quadro denominado de vanishing testis.

Epidemiologia

  • Torção testicular é mais comum durante a puberdade.
  • O período neonatal também apresenta um pico de incidência.
  • Na infância pensar em torção dos anexos testiculares como o apêndice de Morgagni que se localiza na cabeça do epidídimo.

Ver causas de escroto agudo.

Quadro clinico

O principal sintoma é o início súbito de do testicular com irradiação para região inguinal ou hipogástrio. Pode acontecer náusea e vômito.

A bolsa escrotal do lado acometido apresenta sinais flogísticos. E é comum o testículo se apresentar aumentado de volume durante o exame físico que via de regra é bastante doloroso.

Quando há necrose a cor da bolsa pode ser tornar arroxeada e quando essa cor é vista em formato de ponto ou grão de arroz no polo superior do testículo a hipótese de torção do apêndice de Morgagni deve ser considerada.

Acúmulo de liquido em torno do testículo (hidrocele) pode ocorrer de forma reacional.

Os exames complementares como ultrassonografia com doppler ou cintilografia para pesquisa de fluxo sanguíneo no parênquima testicular podem ser solicitados. Deve-se levar em conta que os testículos pós-puberais são mais volumosos o que se reflete em melhor acurácia desses exames em diferenciar situações de ausência de fluxo (torção) de situações de aumento de fluxo (orquite).

Desta forma alguns cirurgiões preferem a indicação de exploração da bolsa escrotal em todos os pacientes. Independente do resultado dos exames complementares.

Tratamento

Cirurgia para exploração da bolsa escrotal de urgência. O testículo contralateral deve sempre ser explorado quando encontramos uma torção testicular. A malformação que levou a torção de um lado provavelmente está presente do outro lado.

O testículo necrosado exige a orquiectomia. Ainda é motivo de discussão a remoção do testículo de viabilidade duvidosa. Alguns cirurgiões optam pela orquiectomia enquanto outros pela manutenção do testículo e sua orquidopexia. Com a finalidade de reduzir a pressão no parênquima testicular alguns cirurgiões realizam uma incisão na túnica albugínea.